Neste tempo de conversão e reflexão quaresmal, em que somos convidados a um crescimento interior, a procurar o Mais, deixamos uma sugestão cultural.
O TEATRO DA CORNUCÓPIA vai levar à cena a peça de Paul Claudel, MORTE DE JUDAS. O espectáculo assinado por Dinarte Branco, Luis Miguel Cintra e Cristina Reis, é um monólogo de 40 minutos e estará em cena no Teatro do Bairro Alto (Rua Tenente Raul Cascais 1A, em Lisboa) de 24 de Março a 3 de Abril.
MORTE DE JUDAS é como uma carta do Tarot. Ao lado da cruz, imagem simbólica de uma História feita à luz da ideia de um Deus que se fez carne, num curto monólogo, Claudel mostra uma “carta” que não é a da cruz de Cristo, com outro madeiro, a figueira, onde Judas, o Apóstolo para sempre associado ao Mal, à Traição e ao Demónio, depois de trair Cristo, se enforcou. Faz o exercício de lhe dar voz, de, em oposição aos textos sagrados, contar a Morte de Cristo pelo ponto de vista de quem desencadeou toda a Paixão. Ao contrário dos Evangelhos que mitificam a narrativa dos acontecimentos, Judas fala do lugar do Homem, fala enforcado, e resgata a sua condenação moral com um ponto de vista exemplarmente dialéctico em que demonstra como a sua traição serviu Deus. A figueira, árvore viva e de ramos em todas as direcções torna-se no símbolo da crítica, da lucidez, do materialismo, do próprio “livre arbítrio”, do próprio Homem, e opõe-se para sempre à cruz, madeira já morta, indicadora do caminho da salvação.
É Dinarte Branco quem interpretará essa fala do enforcado. Trabalhou o monólogo em diálogo com Luis Miguel Cintra e Cristina Reis. O resultado é um estranho e incómodo “objecto”, o monumento a que o Mal não tem direito. Essa estátua ali fica para sempre e afirma, por outras palavras a frase popular: “Deus escreve direito por linhas tortas”. E que é o Homem quem trabalha para Deus.
Segundo as palavras de Luis Miguel Cintra, “O que tornou Judas grande não foi a vaidade de pôr Deus em causa, foi a sua humanidade de pecador, o gesto da sua traição e a morte que a si próprio depois deu, foi aquilo que deu a Deus a oportunidade de salvar os homens todos com um sofrimento decidido pelos homens e de, assim, humanizando o seu sacrifício, o abraçar na sua imperfeição, e devolver à humanidade a condição de criação divina.”
Os capítulos 26 e 27 do Evangelho segundo São Mateus são lidos pela voz de Luis Miguel Cintra. Esta inserssão biblíca no início do espectáculo procura apresentar “uma reflexão sobre a relação do Homem com o Deus do Cristianismo”.
Que esta sugestão teatral seja mais um meio para nos ajudar a preparar interiormente para acompanhar Cristo na sua morte e ressurreição e celebrarmos a Páscoa no nosso coração, na nossa Vida.
MORTE DE JUDAS de Paul Claudel
Um espectáculo de Dinarte Branco, Luis Miguel Cintra e Cristina Reis
Tradução: Regina Guimarães
Interpretação: Judas Dinarte Branco; Voz Luis Miguel Cintra
Colaboração artística de: Leonor Salgueiro; Colaboração técnica (som): Joaquim Pinto e Nuno Emanuel; Direcção técnica: Jorge Esteves; Montagem: João Paulo Araújo, Abel e Rui Seabra
Curta série de representações
24, 25, 26, 27 e 31 de Março 1, 2 e 3 de Abril.
Teatro do Bairro Alto, em Lisboa.
(ver Agência Ecclesia)