SANTA IRIA
Nascida no século VII numa rica família de Nabância (Tomar), Iria recebeu educação esmerada e professou num mosteiro de monjas beneditinas, o qual era governado pelo seu tio, o Abade Sélio.
Devido à sua beleza e inteligência, Iria cedo congregou a afeição das religiosas e das pessoas da terra, sobretudo dos jovens e dos fidalgos, que disputavam entre si as virtudes de Iria.
Entre estes adolescentes contava-se Britaldo, herdeiro daquele senhorio, que alimentou por Iria doentia paixão. Iria, contudo, recusava as suas investidas amorosas, antes afirmando a sua eterna devoção a Deus.
Dos amores de Britaldo teve conhecimento Remígio, um monge director espiritual de Iria, ao qual a beleza da donzela também não passara despercebida. Ardendo de ciúmes, o monge deu a Iria uma tisana embruxada, que logo fez surgir no corpo sinais de gravidez.
Por causa disso foi expulsa do convento, recolhendo-se junto do rio para orar. Aí, foi assassinada à traição por um servo de Britaldo, a quem tinham chegado os rumores destes eventos no dia 20 de Outubro de 653.
O corpo da mártir ficou depositado entre as areias do Tejo, aí permanecendo, incorruptível.
Na parte de cima da esquina da parede do convento foi colocado num nicho, uma imagem da Santa Iria para que todos os que passassem na ponte reconhecessem o sítio do seu martírio, imagem que ainda hoje existe.
Santa Iria
(Que floresceu em Nabância no século VII)
Num rio virginal de águas claras e mansas,
Pequenino baixel, a Santa vai Boiando.
Pouco a pouco, dilui-se o oiro das suas tranças
E, diluído, vê-se as águas aloirando.
Circunda-a um resplendor de verdes Esperanças.
Unge-lhe a fronte o luar (os Santos Óleos) brando,
E, com a Graça etérea e meiga das crianças,
Formosa Iria vai boiando, vai boiando…
Os cravos e os jasmins abrem-se à luz da Lua,
E, ao verem-na passar, fantástica barquinha,
Murmuram-se entre si: «É um mármore que flutua!»
Ela entra, enfim, no Oceano… E escuta-se, ao luar,
A mãe do Pescador, rezando a ladainha
Pelos que andam, Senhor! Sobre as águas do Mar…”
António Nobre, 1885
Culto
O seu culto foi muito popular durante a dominação visigótica, de tal forma que a velha Scallabis romana passou a ser chamada de Santa Iria (e daí derivou a moderna Santarém, através de Sancta Irene). O culto foi perpetuado através do rito moçárabe. Existiu em Tomar, uma Confraria de Santa Iria em 1336. Houve dois hospitais de invocação a esta santa, um na Rua dos Moinhos e outro na Rua dos Oleiros e que o Infante D. Henrique incorporou com outros, no Hospital de Santa Maria da Graça. A Feira anual de Santa Iria começou no ano de 1626, tendo sido autorizada por D. Filipe II.
Em 1673, o Príncipe Regente D. Pedro, determinou que a Procissão de Santa
Iria, como padroeira de Tomar, fosse equiparada, à do Corpo de Deus que era a de mais categoria que se podia celebrar em Tomar. Era costume celebrar-se na igreja de Santa Iria, no dia da sua evocação, uma missa solene após a qual se lançavam á agua, cerca do Pego, flores que iam pelo rio abaixo, lembrado o seu martírio. Santa Iria tornou-se também padroeira de Thomar, e o dia do seu assassinato foi durante muitos anos feriado municipal. Foi a partir daí que Scálabis começou se a chamar Sant´Irene que posteriormente mudou para o nome Santarém.
Santa Iria é representada habitualmente segurando a palma do Martírio.
Bibliografia:
1 – OLIVEIRA, P. Miguel de: Santa Iria e Santarém. Lenda e História. Estudos hagiográficos, Lisboa, União Gráfica, 1964
2 – COSTA, P. Avelino de Jesus: Santa Iria e Santarém, revisão de um problema hagiográfico e toponímico. – Coimbra, FLUC, 1972
3 – FERNANDES, A. de Almeida: Considerações acerca de Santa Iria. Identificação, lendas e toponímia. – Tarouca, Separata da Revista Camoniana, Ano VII, Dez 1985, n.º 12
4 – ESPÍRITO SANTO, Moisés: Os mouros fatimídas e as aparições de Fátima. – Lisboa, ISER – Universidade Nova de Lisboa, 1995
P I S T A S
– O que é que me toca na história de Santa Iria?
– Como reajo às tentações que me aparecem na vida? Consigo ser fiel à minha relação com Deus? De que forma?
– Seguindo o exemplo de Santa Iria tentar ser fiel na oração ao longo destes 15 dias.
SUGESTÃO
– Visitar a cidade de Tomar e seus locais de veneração e culto a Santa Iria.